
O meu cão é feliz?
Desde tenra idade que nos ensinam através de desenhos animados que os animais são iguais a nós e, dessa forma, humanizamo-los pelos seus comportamentos. Isto é positivo porque nos ajuda a ter empatia e a cuidar dos animais de estimação como corresponde, oferecendo-lhes o necessário e dando carinho.
Portanto, essa visão favorece aspetos fundamentais que, felizmente, melhoraram a vida dos nossos cães. Cada dia nos preocupamos mais com os nossos animais de estimação e damos-lhes todos os cuidados necessários em diferentes níveis.
Isto, na nossa opinião, é uma excelente notícia, desde que não caiamos na humanização do cão em todos os aspetos. Sem dúvida que a humanização favorece que entendamos que também têm sentimentos e que partilhamos aspetos como seres vivos e que precisam do nosso carinho, atenção e dedicação.
Mas não podemos humanizar em 100% dos âmbitos (nutrição, sistema digestivo, sistema respiratório, necessidades para se sentirem completos, educação, etc.). Tendemos a pensar que os nossos gostos devem ser os seus, mas não devemos esquecer que se regem por regras diferentes e que isto pode “chocar” em algum aspeto.
Dando algum exemplo dentro dos muitíssimos que poderíamos nomear, estariam o seu aparelho digestivo e a necessidade de separar comidas, a diferente forma do humano de transformar as proteínas em energia, os alimentos que nós podemos digerir e eles não, a forma de se relacionarem e saudarem, instintos naturais que nós temos já atrofiados, mas eles não, a nossa necessidade de espaços grandes no nosso lar e o stress que lhes causa a eles espaços grandes quando os deixamos sozinhos, etc… Dedicaremos diferentes artigos para conhecer as diferenças e compreendê-las.
Mas fundamentalmente e no que baseamos este artigo, estaria na forma de desfrutar. Nós, os humanos, podemos desfrutar estando em casa tranquilamente, no sofá, a ver televisão e a conversar com a nossa família, e podemos enchê-los de todo o tipo de comodidades (cama, brinquedos, etc.), pensando que já “cumprimos”.
Mas nunca devemos esquecer que eles precisam de algo mais. Precisam de interagir connosco e com outros da sua espécie. Precisam de se sentir cães. Precisam de utilizar os seus sentidos para conseguir objetivos. Precisam de ser úteis. Como especialistas no mundo da formação e treino canino durante muitos anos, e nos nossos estudos realizados, comprovamos que os cães a quem damos tudo feito, os cães sem normas e sem objetivos deixam de ser cães e isso deriva em stress, que, por sua vez, dão saída de diferentes formas em função das suas características (ladridos, morder em casa, estereotipias, fobias, agressividade, anulação de habilidades sociais, etc.).
Com isto não queremos dizer, nem muito menos, que não lhes demos todos os caprichos em casa, comodidade, brinquedos, camas, etc.. Mas ainda faltaria algo mais.
Com algo tão simples como ver as características do nosso cão (agilidade, concentração, olfato, paixão por brincar com mordedores, saltos, etc.), e para completar a sua felicidade, seria indispensável a interação com eles, que utilizem os seus sentidos para conseguir objetivos, bem sejam a nossa felicitação, a sua comida ou qualquer motivação que tenham.
Sim, já sei, hoje em dia não dispomos de muito tempo… Mas não estamos a falar de trabalhos profissionais, nem da obrigação de nos inscrevermos em grupos de trabalho (oci, agility, etc.), nem sequer de adicionar tempo dedicado a eles, é simplesmente aproveitar parte dos seus passeios para que os protagonistas sejam o binómio cão-dono.
Os cães diferenciam, por norma, o seu comportamento em casa do seu comportamento fora dela. E fora dela, na maioria dos casos, os donos passamos a ser aquele “incómodo” que não me deixa atravessar a rua para cheirar aquela linda cadelinha, aquele “aborrecido” que não me deixa morder a bola daquele menino, aquele “chato” que me chama e me persegue para me pôr a trela e voltar para casa, etc…
Somos “amigos em casa e “inimigos” fora dela.
Se seguíssemos uma breve rotina, em que fora de casa guiássemos o nosso cão para obter sucesso em exercícios e isso implicasse uma recompensa que esse cão em concreto desejasse, passaríamos de ser incómodo, aborrecidos e chatos, a ser aquele guia que admirassem e valorizassem porque tem a segurança e capacidade para me guiar aos recursos que desejo. E com essa visão vem a aceitação de normas. E esses exercícios convertem-nos na parte mais importante da sua atenção e, portanto, diminui essa atenção a outros estímulos externos que podem ser causa de conflito.
E o mais importante, com tudo isso os cães utilizam os seus sentidos e instintos para conseguir objetivos e, com isso, a sua visão para connosco e, com tudo isso, a diminuição ou eliminação de stress que derivaria em problemas mais complexos.
Tendemos a associar a palavra “treino” à necessidade de solucionar um problema claro que já exista. E esse é um grande erro.
É igual o exercício ou os exercícios. Poderiam ir desde esconder algo para o nosso Beagle, até exercícios simples de obediência premiados com mordedor ou brinquedo para o nosso Pastor Belga ou Pastor Alemão ou American, rodear árvores à distância para a nossa raça de pastoreio, saltos para o nosso cão se não tiver muito peso, truques para o nosso cão de raça pequena que impliquem concentração, etc. etc…
Podem seguir o nosso facebook para ver numerosos exemplos de diferentes exercícios com diferentes cães e, em breve, poderão seguir o nosso canal de youtube para aprender como realizá-los ou podem inventar muitos mais… mas o nosso conselho é que esse “humano” de 4 patas a quem damos todo o tipo de caprichos, lhe demos os mesmos caprichos, mas deixando-o ser cão e, com isso, ser mais feliz e melhorar a nossa relação cão-guia.
E, por outro lado, aplicar normas supõe estabelecer uma relação correta e não improvisar em cada passeio, em função de se temos pressa, do nosso estado de espírito, dos que nos rodeiam nesse momento, etc… Saber que os cães se adaptam excelentemente ao sempre e ao nunca, mas o que não compreendem é o “às vezes”. Mas nisto aprofundaremos noutro artigo.
Em definitiva, não entender que, a diferentes níveis (educação, saúde, nutrição), o cão é um cão, pode prejudicar em diferentes graus a sua educação, a sua saúde e uma alimentação correta. E, obviamente, isto não está relacionado com saber que partilhamos sentimentos e que devemos oferecer-lhes o carinho e os cuidados que corresponde.
Portanto, quanto mais soubermos do cão, melhor vida lhe poderemos oferecer e, para isso, devemos adaptar-nos às suas necessidades como espécie (em diferentes campos) e não pretender conseguir o contrário, porque isto último estaria relacionado com a nossa felicidade, mas não com a sua.
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